Saturday, February 17

O Terceiro


A dura acústica dos claustros, acompanhada pelo marchar dos seguranças, faziam a cadeira rolar sinistramente até à minúscula porta.
Desde o atentado que lá prometera voltar, e aí estava, debilitado como nunca, na expectativa de um último segredo… o terceiro.

Com um gesto ensaiado, a Madre indica-lhe o silêncio do aposento onde a Irmã, que em tempos foi prima, jaz no seu esparto leito.

“- Deixa-nos (…) sós Herman.” diz Karol, entre as pausas que a sua velhinha, mas fiável bomba de oxigénio lhe impõe.

Herman deita um olhar experiente à área circundante e, levando a Madre consigo, acede ao pedido.

Um desconfortável sossego volta à pequena habitação onde Lúcia escolheu passar, desde a última vez que se viram, o resto da sua existência.

“- Antes de (…) quebrares o teu (…) voto (…) preciso de te dizer (…) uma coisa” diz Karol, num Português sábio mas visivelmente enferrujado.

Surpresa pelo respirar profundo e intervalado da máquina, a Irmã acena uma nervosa aceitação.

Lá fora, a solitária nuvem que passa, faz cair uma sombra sobre o rosto de Karol que se deixa percorrer com a melancolia de quem sabe o que o futuro lhes reserva…

“Lúcia (…)(…) I am your father” afirma ele, na sua melhor interpretação de Darth Vader desde o consiglio de Novembro de 86

Trocam um terno olhar de reconhecimento e, vagarosamente, Karol pousa a sua vincada mão na dela.

“Eu sabia que voltavas”, diz-lhe ela enquanto lhe corre pelo rosto uma lágrima de felicidade

Shamrock


P.S. A punch-line desta linda história foi criada, em Agosto de 2000, durante um almoço volante em frente à Catedral de Praga no 1º Interrail das 4 putas e da F…. deu para uma boa meia hora de atrofio.
Este post é-lhes dedicado.

3 comments:

Unknown said...

um grande bem-hajas!

um abraço

k. bitch

PS- os 3 castorinhos mandam cumprimentos

Shamrock said...

Sejas bem-vinda, grande Puta Celta (já reparaste que acabei por vir parar à tua terra?).

Viva a Lúcia, o Francisquinho e o Jaquinzinho.

Baci

Xamussas said...

Muito bem escrito... de facto...

mas...onde já se viu.. chamar puta um confrade!
e ainda por cima indiana...

Dekuji pela recordação!