Thursday, April 17

Revista de Imprensa II

"O provedor de Justiça, Nascimento Rodrigues, enviou um ofício ao presidente da câmara de Lisboa a defender a harmonização do horário de encerramento dos estabelecimentos nocturnos do Bairro Alto às "duas da madrugada"."
Desde que comecei a ir ao Bairro que faço questão de, enquanto sorvo a minha morangoska à porta do Cena de Copos, guardar 5min por noite para sofrer um bocadinho com os moradores por trás daquelas velhinhas janelas de madeira e envidraçado simples. É um fado triste o daquela boa gente que tem que levar todo o santo dia com gentalha ébria e barulhenta, tráfico e consumo de drogas variadas e, ocasionalmente, com o bater das biqueiras de aço de uma qualquer trupe skinhead a fazer a limpeza étnica do mês.

O Bairro Alto é, para mim e para muitos, dos melhores “sítios de noite” que conheço e é reconhecido como tal pela maior parte dos turistas que conheci.
Nesta nossa sociedade cheia de dinheiro e vícios, a noite representa não só um mercado muito considerável, como um foco de interesse para uma cidade, quer na qualidade de vida dos que a frequentam, como no potencial turístico que comporta.
É este potencial turístico enorme que o Bairro tem que eu acho que, numa altura em que as low-costs espalham os seus tentáculos e criam novas formas de fazer turismo de fim-de-semana, deveria ser preservado.

Diminuir em duas horas o “lucro” dos bares e fazer com que aqueles que gostam de jantar muito tarde - ou passar pelo café antes de começar a noite – pensem 2 vezes antes de ir até ao Bairro passar uma horita parece-me má ideia.

Lisboa continua a perder vitalidade. As cada vez menos pessoas que lá vivem deslocam-se de carro, passam os seus tempos livres em casa ou nos centro comerciais. A cidade precisa urgentemente de ganhar vida própria, ter pessoas na rua, lojas cheias… precisa de ser, de dia, uma amostra do que o Bairro é à noite.

Com isto quero dizer que Lisboa não anda a respirar qualidade de vida e tem, no Bairro um activo precioso da cidade e merece ser muito bem tratado para que não morra.
Este bem tratar implica melhorar acessibilidades (metro aberto até mais tarde, por exemplo), manter os níveis de criminalidade aceitáveis e, não menos importante, manter o interesse do bicho.

E ah… há p’raí muito jovem que gostava de lá viver. Passe o tempo e venham os incentivos.

Shamrock


Disclaimer:
este post tendencioso foi escrito com propósitos lúdicos e não representa necessáriamente a opinião do autor.

4 comments:

Anonymous said...

Eu moro perto do Bairro, na zona do Adamastor.

Não frequento os bares, mas desfruto muito desta zona tanto de dia como de noite. Gosto de sair à hora a que me dá na gana e dar uma volta pelas ruas. Mas falando do dia... Não concordo com o que escreves. A vida que esta zona tem de dia é no mínimo interessante e a sensação de andar nas ruas sentindo-me em casa compensa o cheiro a erva que sinto no quarto à noite. Se há coisa que gosto é do ambiente que se sente aqui de dia. Por mim pegava nesta zona e apertava-lhe as bochechas dizendo "gosto tanto de ti!". Penso que de dia esta zona é frequentada por quem lhe dá verdadeiro valor. De noite, aí sim, subvaloriza-se, resumindo-a a bares... Mas esta é só a minha opinião.

Shamrock said...

Ok ok... estamos a falar de coisas diferentes. Eu, quando falo de uma cidade deserta durante o dia, 'tou a falar da Baixa, do Castelo, de Alfama, daqueles bairros que, ao fim de semana deviam estar cheios de gente, de cafés e de lojas cheias e a verdade é que estão desertos.

Ou seja, acho que é preciso pôr gente nas ruas e o Bairro, especialmente à noite, é uma excepção... que deve ser preservada.

O Adamastor e a Bica são outras excepções (e, na noite, muito devido ao Bairro, digo eu)

Além disso eu já disse que ia ser tendencioso, sim?

Anonymous said...

Sim, daí ter-me referido apenas ao que escreveste (que é só o que eu conheço).

Preferi resumir demais o que queria dizer e acabou por ficar incompleto. Também incluo Alfama, Baixa e Castelo. Mas por comentários é difícil ser clara (acho que é preguiça), como não é importante fico por aqui. ;)

Sim, penso que falamos de coisas diferentes. Por isso falo apenas do que eu digo e não do que tu escreveste. E o que eu digo é: tenho pena que para haver vida no Bairro e em toda a zona, seja preciso haver bares; esta zona é muito mais que isso. Não sou contra os bares, acho é que há mais coisas para além disso que não estão a ser aproveitadas.

Continuo a acumular palavras sem dizer nada. Queres ir dar uma volta? É que isto não se explica.

Raquel said...

Também partilho, como tu, de alguma compaixão pelos moradores do Bairro Alto mas, como tu, não concebo a ideia de o único sítio aceitável para sair à noite em Lisboa - por todas as características que mencionaste no post e acrescentando que é das únicas zonas minimamente eclécticas da cidade nocturna – ser tratado de uma maneira tão simplista. O Bairro é um símbolo lisboeta e reduzir-lhe o horário de funcionamento dos bares é, na minha opinião, assassiná-lo. Tal como fazem com o resto da cidade. É verdade que o centro histórico está esquecido e isso reflecte-se numa escala escandalosa ao passear pelo Bairro durante o dia. Porque é deserto! Não há praticamente ninguém durante o dia no Bairro – os que há ou são sem-abrigo ou velhotes solitários - talvez porque quase todos os estabelecimentos são bares logo, não podem estar abertos durante o dia. Então, se a única forma de levar as pessoas à rua é com o comércio, se calhar seria boa ideia prolongar o horário dos bares e transformá-los em cafés durante o dia e não expulsar o único público que faz com que aquele lugar ainda respire de forma digna. Investir, e não o contrário! Se se perde o coração da cidade não se perde a alma também? (a continuação no blog ;))