Jornalismo – de volta aos testamentos de sociedade

Já tive a oportunidade de escrever que a capacidade de bem comunicar é uma das qualidades mais importantes que temos como seres humanos.
Essa, aliada à evolução tecnológica criada pela nossa inteligência, trouxe-nos uma capacidade impressionante de difusão de informação.
Já tive a oportunidade de escrever que a informação é das nossas melhores e mais poderosas ferramentas e que, por isso, deve ser usada sempre que possível e, sempre que possível, deve ser usada com o respeito que merece.

Qual o principal veiculo de informação para o cidadão comum?.. lá está… o Jornalismo.

Tome-se o caso Sócrates (em duas doses e com um copinho de leite para empurrar):

Soube-se que o 1º Ministro acabou o seu curso de 5 anos nos dois primeiros anos de existência da UNI e que, ao que parece, nem ia às aulas… escândalo… é?
Questões: Ele fez os 3 primeiros anos do curso noutro lado qualquer? O Estado reconhecia à UNI a capacidade de leccionar os anos em questão? Há alguma coisa de ilegal no processo? As cadeiras eram com aulas obrigatórias?
É-me indiferente se o Sócrates ia às aulas, se copiava, deu a copiar ou se tirou o curso na Farinha Amparo! O nosso Estado tem organismos que controlam a qualidade do Ensino Superior. Toda a gente sabe que há universidades que não valem nada, mas esse controlo existe e se se registarem irregularidades o Estado deve intervir. Se o Sócrates cumpriu as regras do jogo, não teve um tratamento diferenciado em relação aos seus colegas e se o Estado não encontra irregularidades no processo, porque é que se anda a encher os espaços de comunicação social com meias noticias que não dizem nada sobre a legitimidade da sua licenciatura, nem sequer da sua conduta ética.

No Público que tão gentilmente me cederam no voo de regresso à terra madrasta lia-se o seguinte destaque:
“José Sócrates não terá entregue a sua tese de mestrado em Gestão de Empresas no ISCTE”

Tremi de horror… O 1º Ministro José Sócrates fez batota e não entregou a tese de mestrado?!!! Só por ter/ser uma personalidade politica?!!

Depois tremi de espanto… O 1º Ministro José Sócrates é Mestre?!!

Afiguraram-se assim duas hipóteses:

Hipótese 1ª - O 1º Ministro José Sócrates é Mestre!
Antes de mais queria parabenizar o Sr. Mestre José Sócrates. Só não o faço por não gostar da palavra “parabenizar”, preferindo assim, se vocês não se importarem, dar-lhe apenas os meus parabéns.
Se, entretanto, se verificar que o “não terá entregue” é um “não entregou”, fico escandalizado com esta situação por 2 motivos:
- Acho impensável que um Professor se arrisque a dar uma nota a uma tese que não foi entregue, não foi apresentada e não está disponível para consulta.
- Acho de uma profunda estupidez e/ou gigantesca prepotência que nem Professor nem aspirante a Mestre se tenham lembrado de plagiar uma qualquer tese antiga apenas para dar sustentabilidade mínima à filha-da-putisse que estavam a fazer.

Hipótese 2ª - O 1º Ministro José Sócrates não é Mestre!
Assim sendo fico contente com a notícia e volto a dar os meus mais sinceros parabéns ao Sr. José Sócrates porque se não fosse Mestre e tivesse entregue a tese queria dizer que tinha chumbado, o que, há que convir, fica sempre mal. Assim vai para casa com uma pós-graduação em gestão e já canta.

Li a noticia e cheguei à conclusão que o jornalista estava espantado com o facto de o ISCTE ter resolvido dar um título aos gajos que só fazem a parte curricular do mestrado.
Arrisco-me a dizer que o jornalista em questão ou não gosta do Sócrates e é mau jornalista, ou não sabe o que é um mestrado e foi responsável por um acto de mau jornalismo.

Acho que o Jornalista, como jogador titular de uma das equipas que compõem o Jornalismo “Profissional”, é uma peça importantíssima no funcionamento correcto de uma sociedade.
Dadas as especificidades da sua actividade, é importante que, para ser um bom profissional, este seja inteligente e bem formado o que nem sempre é possível, tendo em conta o rácio de pessoas genericamente pouco inteligentes e mal formadas (ou de momentos pouco inteligentes de pessoas até razoavelmente inteligentes e bem formadas) presente em todos os sectores da sociedade civil, militar ou de outra qualquer.
Assim lanço aqui um desafio às autoridades competentes: Investiguem a UNI, se for caso, fechem a dita e criem naquele lindo edifício uma super Universidade de Comunicação Social que forme grandes jornalistas e sirva de exemplo a todas as outras.
Já que estavam com a mão na massa podiam aproveitar para fazer uma mega discoteca de rock na cave, que a cidade está a precisar… que tal?

Aguardam-se cenas dos próximos capítulos desta novela que, na minha opinião, deveria girar mais à volta da UNI e do Ensino Superior e menos à volta do mediatismo do 1º Ministro. Sócrates, caso se confirme o “escândalo”, será uma pequena parte do grande escândalo. Uma pequena parte que (nesse caso, infelizmente) é a figura de proa da gestão do nosso País.

Shamrock

P.S.
Eu, por acaso, sou um ser humano e fui um aluno irrepreensível e exemplar a todos os níveis, mas sempre senti um carinho especial por aqueles meus colegas simpáticos e calorosos a quem ajudava na compreensão das matérias mais complexas, incentivava nos seus interesses extracurriculares, ensinava a pescar e só não deixava que copiassem por mim porque penso ser essa uma via que leva ao facilitismo na vida adulta de um Homem que se quer orgulhoso de si próprio.
Aliás, faltei uma vez a uma aula porque tive de ir levar o tatu da minha vizinha à clínica e passei o tempo todo na sala de espera a chorar de remorsos... ou a comer tremoços… já não me lembro.

P.P.S.
Resolvi fazer este post porque li sobre o assunto num blog que gosto de ler (que por sinal é da família de certos e frequentadores desta casa) e achei piada termos lido a mesma notícia (porque já não pegava no Público há uns meses).

C.C.C.P.
Não deixa de ser interessante, caso se confirme, que o diploma do 1º Ministro date de 8 de Setembro de 1996 que, só por acaso, calhou num Domingo.A investigar sem dúvida, mas sem sensacionalismos.